sábado, abril 17, 2004

A evolução

Com a devida vénia, transcrevemos o artigo de Narana Coissoró, vice-presidente da Assembleia da República, no Jornal de Notícias:

O slogan escolhido pelo Governo "Evolução - 30 Anos" para comemorar o aniversário da revolução de 1974, tem suscitado, nos últimos dias, uma polémica com as mais fantasiosas interpretações. Entendem alguns próceres da Esquerda tradicional que, com a supressão do R, a "Direita conservadora no poder" quer ajustar contas com os militares de Abril, escamotear a ruptura por eles provocada com o regime derrubado, apagar a memória da "Revolução", retomando subliminarmente o mote de Marcelo Caetano, "a evolução na continuidade"! Por mais estapafúrdio que isto seja, é o que se tem lido, saído da pena dos nossos intelectuais radicais…

Quem sustenta semelhantes desvarios esquece-se de que a geração do primeiro-ministro, Durão Barroso, que hoje ocupa o poder, viveu intensamente a Revolução de 1974, com todos os seus desvios e derivas, incluindo a tentativa de estabelecer em Portugal uma ditadura de tipo leninista, que foi derrotada também por militares do mesmo Movimento das Forças Armadas (MFA), em 25 de Novembro de 1975. Desde então, normalizado o curso das chamadas lutas populares, entrou em vigor a nossa Constituição da República que, depois de grandes revisões, é a que vigora, hoje, entre nós. Os portugueses foram protagonistas, nos últimos 30 anos, de uma profunda e extensa transformação, que mudou a face do Portugal, rural e arcaico, que vivia, habitualmente, arredado da Europa e do Mundo do seu tempo, envolvido na guerra colonial.

O Portugal de hoje deu, desde a madrugada libertadora de Abril, um enorme salto de modernidade que é a evolução, em tudo contrário aos regimes revolucionários que ainda vigoram, como em Cuba ou na Coreia do Norte, só para referir dois países que ainda suscitam a admiração da nossa Esquerda jurássica.

É, pois, a evolução que celebramos, iniciada pela Revolução de Abril.