quinta-feira, maio 06, 2004

Chissano não rejeita nem ajuda, nem ideias

O Presidente da República de Moçambique, Joaquim Chissano, deslocou-se ontem ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo, onde reuniu com o deputado europeu do CDS-PP, José Ribeiro e Castro, que tem desenvolvido esforços no sentido de chamar a atenção da comunidade internacional para os alegados casos de tráfico de pessoas, nomeadamente crianças, e de órgãos humanos em Moçambique. Na reunião, participou também o deputado europeu socialista, Carlos Lage.
Registando com agrado o apoio recebido em Lisboa por parte do Presidente da República e do Primeiro-Ministro de Portugal, Joaquim Chissano mostrou-se particularmente satisfeito com o novo espírito de optimismo que encontrou em Portugal relativamente às relações com Moçambique.
Referindo-se à questão do tráfico de órgãos humanos, que ocupou um debate especial do plenário de Estrasburgo em 30 de Março passado, o Presidente moçambicano relacionou a possível existência destes factos com a influência que crenças e ritos tradicionais ainda têm no povo moçambicano, incluindo ainda práticas de feitiçaria. Referiu também a existência de tráfico de pessoas, nomeadamente de crianças, que as autoridades procuram combater, e não excluiu outras hipóteses sob investigação. Manifestando-se preocupado com a possibilidade da existência destes tráficos hediondos, Chissano afirmou que, até à data, não foram ainda recolhidas provas concludentes quanto a tráfico de órgãos humanos, articulado com redes internacionais para fins de transplante.
Face à proposta de constituição de um Grupo ou Comissão Internacional de Peritos, recentemente apresentada por José Ribeiro e Castro, o deputado português referiu que não se trata de “políticos, que poderiam ser vistos como intrusos e pouco ajudar objectivamente”, mas de “especialistas, policiais e forenses, com efectiva experiência na matéria, a fim de ajudar as autoridades moçambicanas no combate aos crimes relacionados com o tráfico de pessoas e de órgãos humanos e aumentar o cruzamento internacional de informações”. E reiterou que o imperativo de dar combate sem tréguas às redes perigosas de criminalidade internacional organizada – “o lado negro da globalização”, frisou – exige uma pronta e aberta troca de informação entre polícias e outros peritos judiciários.
Joaquim Chissano, em resposta, declarou que “Moçambique não rejeita nem ajuda, nem ideias” e agradeceu a actuação dos deputados presentes neste tocante, manifestando o apreço das autoridades moçambicanas pelas ofertas de apoio já recebidas, que estão a ser avaliadas em termos de adequação e oportunidade e em que os moçambicanos são os principais interessados.
A concluir, José Ribeiro e Castro agradeceu ao Presidente da República a sua disponibilidade para aquele encontro e os esclarecimentos prestados, manifestando o desejo de que os países africanos de língua portuguesa intensifiquem as suas relações com as instituições comunitárias, nomeadamente com o Parlamento Europeu, fazendo dos parlamentares, agentes e funcionários portugueses “embaixadores e advogados de África junto da Europa”. O Presidente de Moçambique havia também lamentado o facto de, para a União Europeia, o apoio à criação e manutenção de infra-estruturas em África não ser uma prioridade, agradeceu a preocupação e iniciativa dos deputados presentes e, citando o que ouvira de Durão Barroso, exortou todos os futuros eleitos pelo nosso país ao Parlamento Europeu a constituírem um verdadeiro “partido africano” naquela câmara. Recorde-se que Joaquim Chissano ocupa, nesta altura, as funções de presidente da União Africana.
Em Estrasburgo, o presidente Chissano encontrou-se ainda com o presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, o presidente do Parlamento Europeu, Pat Cox, a co-presidente da Assembleia Parlamentar Paritária, Glenys Kinnock, e o presidente da comissão parlamentar para o Desenvolvimento e a Cooperação, Margrietus van den Berg.

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