segunda-feira, março 01, 2004

O blog do Caldas

Há trinta anos atrás, em 19 de Julho de 1974, abriu-se uma janela diferente na política portuguesa. No Largo do Caldas, como então se designava – e ainda hoje é popularmente conhecido – o Largo Adelino Amaro da Costa onde está a sua sede nacional, nascia o CDS.

Apresentou uma proposta política global que irradiava do personalismo.

Era diferente. Firme e moderado. Doutrinário. Persistente. Moderno. Alternativo.

Teve que pagar o preço dessa diferença. Quantas vezes ao longo destes trinta anos de vida. Ainda hoje.

Divergia da maré socialista que a agitação revolucionária desencadeou em Portugal – uma maré avassaladora, crescentemente asfixiante até o 25 de Novembro de 1975 vir permitir um mínimo de estabilização política e de normalidade democrática. Situando-se, inicialmente, ao centro e, depois, à direita do espectro político, transportava um compromisso incondicional com a democracia e a liberdade anunciadas em 25 de Abril de 1974. Por ser diferente, era sinal e teste disso mesmo.

Não foram fáceis os primeiros passos. A seguir ao 11 de Março de 1975, que acelerou a revolução e nos pôs à beira da ditadura comunista, o CDS, com coragem e clareza, afirmou-se na oposição. Desafiou o “revolucionariamente obrigatório”. Sofreu inúmeros ataques e os insultos, as violências e as exclusões, o cerco, a tentativa de silenciamento e a discriminação. Havia quem não suportasse a diferença.

Ao longo destes 30 anos, várias vezes o CDS/PP foi levado a revisitar esses traços originários. Nestes 30 anos por Portugal, o CDS, com altos e baixos, persiste na afirmação contínua das suas quatro marcas identitárias: Democracia e Liberdade; Humanismo; Democracia-Cristã. Desafia o “politicamente correcto” e outros lugares-comuns estabelecidos. Teima em valores personalistas. Insiste em interpretar a alternativa. Continua a haver quem não suporte a diferença.

Muitas vezes impedido de comunicar o seu pensamento, o CDS ficou frequentemente limitado a meios de comunicação próprios. E cedo teve de socorrer-se da imaginação para, com limitados recursos financeiros, estabelecer instrumentos de comunicação que lhe permitissem responder e intervir, transmitir a sua mensagem.

De todos, o mais mítico foi a “Folha CDS”. Com um estilo curto, directo e incisivo, em apenas duas páginas – um A4, frente e verso –, divulgava breves notícias da actividade partidária, respondia a insultos, ripostava a ataques, lançava chistes, enunciava propostas, apresentava crónicas, comentários ou “cartoons”, apresentava linhas, alimentava o argumentário dos militantes. Era o rápido olhar do Caldas por sobre a muralha: a linha do partido, ao vivo. Conseguiu furar o cerco e teve momentos de enorme eficácia. Durante alguns anos, semanalmente, foi o veículo privilegiado de comunicação do CDS e um elo favorito de união dos militantes.

Em certo sentido, porque o futuro tem uma História, a “Folha CDS” antecipou, nos anos 70, o estilo próprio do fenómeno contemporâneo dos “blogs” e algumas das suas funções de comunicação política.

O blog do Caldas” acompanhará as celebrações dos 30 anos do CDS e é, para todos nós, conservadores e democrata-cristãos, a forma contemporânea de fazer reviver essa mesma experiência, essa mesma memória, esse mesmo sentido. De diferença. De alternativa. Pelos valores personalistas de sempre. Por cima do cerco. Traço de união, fonte de informação.

Pela equipa d' O blog do Caldas
José Ribeiro e Castro