sexta-feira, março 26, 2004

Igreja de Angola pede paz, democracia, transparência

Em nota pastoral divulgada anteontem, os bispos de Angola partem do 4 de Abril de 2002 - a data de assinatura do Memorando de Entendimento que selou a paz definitiva - para uma reflexão sobre o presente e o futuro do país-irmão.
Do lado positivo, a nota, intitulada "Angola no Caminho da Esperança", destaca, nomeadamente, «o Congresso da UNITA com a sua reunificação, num testemunho corajoso de reconciliação e democracia», «o Congresso do MPLA, com o lema "Paz, Reconciliação e Desenvolvimento", a dizer-nos que os interesses da Nação devem estar acima dos interesses de qualquer Partido», «o reassentamento dos deslocados e dos militares num clima de fraterno acolhimento» e «um sem-número de projectos anunciados para a reconstrução nacional, cuja realização todos esperamos com ansiedade».
E, do lado negativo, aponta «a falta de paz em Cabinda, onde irmãos nossos têm morrido ingloriamente; a situação miserável das nossas populações, a viverem em pobreza extrema; o aumento preocupante de certas doenças, tais como a sida, a doença do sono e o paludismo; a deterioração crescente de tantas estradas e doutros serviços públicos; a desorientação cultural e as desordens públicas causadas por certas seitas e crendeiros feiticistas; o direito à informação ainda limitado por certas restrições que se não podem coonestar com uma saudável democracia; a questão da transparência administrativa em especial quanto aos petróleos», para concluir com um convite - «Tudo isto nos impele a um exame de consciência nacional, que nos cumpre fazer em voz alta.» - e reflectir sobre os imperativos da paz, da justiça, da vida, da saúde, da educação e da transparência.
Entre outros pontos que mereceriam destaque, o episcopado angolano afirma, quanto ao conflito de Cabinda e à sua resolução, que «a guerra não deve ser a solução nem caminho para chegar a ela» , indicando que «é pela força do direito, reconhecido através do diálogo, que o caso de Cabinda deve ser resolvido».
Noutro plano, os bispos católicos de Angola proclamam como palavra de ordem que «Ou matamos a fome, ou a fome nos mata», apelando ainda «a quem de direito e de dever uma total transparência administrativa, mormente na exploração dos petróleos bem como doutras riquezas minerais, informando correctamente os cidadãos sobre os lucros daí advindos e sobre a sua aplicação.» Na mesma linha, pedem às companhias petrolíferas que «tenham a coragem de dizer quanto pagam, colaborando com o Povo no combate à pobreza, mediante uma justa e produtiva aplicação desses recursos.»

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