segunda-feira, março 22, 2004

O sectarismo editorial

Na edição de sábado passado, a editora de Nacional do "Público", Ana Sá Lopes, escreve a sua habitual crónica semanal. Esta chama-se "Os Nossos Semiólogos do Terror" e, visando ora Carvalhas, ora Pacheco Pereira, segue aquele estilo do "uma no cravo, outro na ferradura", que faz parte do instrumental habitual de quem pretende aparentar "independência" sem a ter.
Tudo para concluir assim:

«Àqueles que vêem na vitória do PSOE a vitória da Al-Qaeda, uma pequena mensagem: não lhes passa, nem de raspão, pela cabeça, que o resultado das eleições espanholas seja uma derrota da forma encontrada pela "grande coligação" para combater o terrorismo? É, provavelmente, esta uma mensagem inútil: o totalitarismo não tem, por costume, procurar outras respostas.»

O blog do Caldas leu muitas opiniões, aqui e pelo mundo fora, comentando que a vitória do PSOE decorreu, de forma determinante, dos bárbaros atentados assassinos de Madrid - o que parece ser incontestável.
Leu reflexões sobre os terroristas quererem influenciar os eleitores ou se convencerem de que o podem fazer - tema sobre que rigorosamente reflectia o artigo de Pacheco Pereira, "comentado" por Ana Sá Lopes.
Leu também variadas críticas à forma precipitada como Zapatero declarou a retirada espanhola do Iraque.
Leu ainda outras preocupações sobre a política do futuro governo espanhol face ao terrorismo, nacional e internacional.
Já leu menos a tendenciosa distorção e simplificação de Ana Sá Lopes: os "que vêem na vitória do PSOE a vitória da Al-Qaeda". Mas, seja como for, lemos tudo isto sempre em pessoas e sectores de pensamento e opinião indiscutivelmente democráticos, em Porugal, na Europa e no mundo.
Ana Sá Lopes é naturalmente livre de ter a sua opinião. E de a publicar, nomeadamente em crónica assinada. Mas o que a leva a crismar de "totalitarismo" (sic) todos os que pensam diferente dela? Ela saberá o que é totalitarismo?
Porém, face a esta grosseira simplificação das opiniões diferentes da sua e a tão absurda qualificação insultuosa, a questão mais importante que fica é esta: quando a editora de Nacional/Política de um jornal, ainda que em crónica assinada, dá mostras de tanto sectarismo e de tamanha militância política no seu sectarismo opinioso, quem pode mais pensar que a editoria desse jornal é independente? Quem pode mais pensar que a editoria política do "Público" é desempenhada com a objectividade, o não envolvimento, a isenção, a imparcialidade exigíveis?