segunda-feira, março 15, 2004

A férrea mãozinha do Bloco

No PÚBLICO, onde mais frequentemente se vê a falta de isenção editorial de algum jornalismo político, claramente ao serviço do esquerdismo militante, é nas “análises” das sondagens. Hoje, é outro exemplo.
Na edição on line, logo na 1ª página, apresenta-se este antetítulo: “Sondagem Revela Falta de Confiança em Durão Barroso”. E, logo a seguir, nomeadamente este lead: “Isto, Apesar de Muitos dos Inquiridos Considerarem Que a Prestação do Executivo Melhoraria Se o PSD Governasse Sozinho, Sem o CDS.” [Nota: Na edição impressa, a apresentação é a mesma.]
No interior, estas ideias são repetidas no título da notícia – “Portugueses Não Confiam no Governo” –, e repete-se também a ideia insidiosa dirigida particularmente contra o CDS: “... embora muitos considerem que a prestação do executivo melhoraria se o PSD governasse sozinho, sem o CDS.”
Porém, neste aspecto da presença do CDS no Governo, o que diz exactamente a sondagem? À pergunta "se o PSD estivesse a governar sozinho em vez de estar coligado com o CDS-PP, acha que o governo estaria a governar melhor, pior, ou não faria diferença", 35% dos inquiridos sustentam que estaria a governar "melhor", enquanto apenas 11% consideram que seria "pior" e 38% acham que "não faria diferença".
Ou seja, ao fim de larguíssimos meses deste tema de campanha obsessiva de Ferro & Louçã, visando quebrar a coligação, só 35% sustentam esse preconceito. Para 49% dos inquiridos a ausência do CDS do Governo ou tornaria as coisas piores ou não faria diferença!
Num universo tão crítico e negativo como o da sondagem e após meses de insistência da oposição, o resultado é absolutamente extraordinário, mas... a jornalista SÃO JOSÉ ALMEIDA “conclui” ao contrário. Se isto não é mãozinha do Bloco...
O mais espantoso ainda é o que se revela no fim.
À pergunta "se António Guterres não se tivesse demitido e o PS tivesse governado nos últimos dois anos, como acha que estaria a situação do país: melhor, pior, ou não faria diferença", apenas 23% responde "melhor", sendo que 30% consideram que seria "pior" e 25% acham que "não faria diferença".
Ou seja, o dado mais relevante da sondagem é o da descrença na política em geral e nos Governos, no duro quadro de dificuldades económicas e financeiras conhecido. Mas, ao fim de dois anos de oposição e declinar responsabilidades, o PS leva um enorme balde de água fria: só 23% acham que seria melhor, enquanto 55% crêem que seria igual ou pior. Mas a jornalista SÃO JOSÉ ALMEIDA “leu tudo” ao contrário. Se isto não é sopro de Ferro...
Já não chegam algumas sondagens, a selecção das perguntas e a forma como são apresentadas. Ainda temos que aturar análises claramente vesgas!
É isto a isenção, a imparcialidade e a independência no “jornalismo de referência”.