Augusto Santos Silva, proeminente deputado e membro da Comissão Política do PS e ex-ministro, gritando «Abaixo o País dos Cromos!», escreveu isto, no sábado passado, no PÚBLICO: «O PS tem os seus cromos, os seus cabos eleitorais, temidos por direcções atrás de direcções, que fazem e desfazem estruturas partidárias e impedem qualquer confrontação politicamente significante, porque não são as ideias ou projectos que lhes interessam, mas apenas técnicas reles de arregimentar pessoas. O exemplo mais notório e querido da imprensa (não é ironia, é a amarga verdade) é o eng. Orlando Gaspar, mas não é o único.»
Orlando Gaspar, também membro da Comissão Política do PS e seu vereador na cidade do Porto, responde hoje, também no PÚBLICO, em artigo intitulado «O Postal Ilustrado». E é também gentil e fraterno: «Há quem goste de cromos. Eu prefiro postais... de preferência ilustrados. (...) Aqui há dias um desses postais caiu voltado para cima, olhei... era o do Augusto, o tal do Santos Silva. Achei piada, a colecção era do Eça, o postal era o Augusto e o assunto reportava ao episódio do Palma Cavalão, iluminado de pacotilha, a escrever os seus doutos artigos na "Cometa do Diabo". (...) Gosto destes postais e do tal do Santos Silva que fala de política, ocupa lugares, fala daquilo que não sabe, mas sabe com certeza a arte de se colocar, também ele, à bica para entrar no autocarro sem pagar bilhete.»
Assim criaram Camarada Augusto e Camarada Orlando, sem querer ou de propósito, um valoroso neologismo: "andar à cromada". Ou não tivesse Santos Silva sido Ministro da Educação e da Cultura nos governos de Guterres.