quarta-feira, março 03, 2004

O grande ausente e o politicamente correcto



Take 1

Na intensa campanha política e mediática contra o resultado do referendo de 1998, a esquerda tablóide ignorou sistematicamente, nas soluções que preconiza, a criança por nascer e o seu direito à vida. A criança tem sido o grande ausente, expulsa do debate ou expressamente diminuída ou desvalorizada. Houve quem a ignorasse totalmente ou quem lhe chamasse, por exemplo, «um esboço de projecto de ser humano».
Assim… nada surpreende e a conversa corre sempre o risco de se tornar um diálogo de surdos.
No afã propagandístico contra o referendo de 1998, abundou-se nas recomendações que viriam da União Europeia.
Mas vale a pena ver com atenção o que rigorosamente sopra da União Europeia.

Take 2

Há dois anos e meio, deu brado uma nova Directiva contra os malefícios do tabaco: é a Directiva 2001/37/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de Junho de 2001, já transposta em Portugal pelo Decreto-Lei nº 25/2003, de 4 de Fevereiro.
É esta Directiva que está na origem dos grandes avisos que surgiram, recentemente, nos maços de tabaco. E o que nos diz um desses avisos?
Diz isto: « Se está grávida: fumar prejudica a saúde do seu filho. » [Anexo I, nº 4 da Directiva]
Já quase todos o devemos ter visto.
Contradições do politicamente correcto. Ou serão esquecimentos selectivos?



Take 3

Se o leitor for mesmo exigente e quiser ainda confirmar o multilíngue pensamento europeu, basta-lhe seguir o “link” para a Directiva 2001/37/CE e poderá consultá-la em várias outras línguas da União Europeia, bem como o mesmo Aviso tão “europeiamente correcto”. Citamos só algumas [sempre no Anexo I, nº 4 da Directiva, nas diferentes versões linguísticas]:
Em português: Se está grávida: fumar prejudica a saúde do seu filho.
Em espanhol: Fumar durante el embarazo perjudica la salud de su hijo.
Em italiano: Fumare in gravidanza fa male al bambino.
Em francês: Fumer pendant la grossesse nuit à la santé de votre enfant.
Em inglês: Smoking when pregnant harms your baby.
Em alemão: Rauchen in der Schwangerschaft schadet Ihrem Kind.
É isso mesmo.
O “filho” – “hijo”, “bambino”, “enfant”, “baby”, “Kind” - está já presente durante a gravidez e a sua saúde gera uma legítima preocupação europeia. E, então, a sua própria vida? Não merece séria ponderação, nem sequer a menor consideração?
É. Ou são as contradições do politicamente correcto, ou são mesmo tristes esquecimentos selectivos.